Na semana passada, abordei neste espaço o risco que uma eventual volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos pode trazer para os esforços globais de combate à emergência climática. Minha análise se baseou nas atitudes pretéritas do republicano e nas suas novas promessas de campanha totalmente anti-climáticas, mas também na comparação com os avanços do presidente Joe Biden nesta seara.
Retomo ao tema nesta semana por causa da reviravolta provocada pela saída de Biden da disputa. Se a vice-presidente Kamala Harris de fato assumir a cabeça de chapa da candidatura democrática, o contraste na agenda climática fica ainda mais dramático – assim como as perspectivas para o futuro do planeta com a vitória de uma ou de outro.
Ela já disse que fará da crise climática uma prioridade máxima de segurança nacional. Diversas reportagens publicadas na imprensa americana desde domingo listaram o longo histórico de atuação de Harris em políticas sobre o tema, que remonta ao período em que era procuradora no estado da Califórnia.
“Harris há anos coloca o meio ambiente como uma de suas principais preocupações, desde processar poluidores como procuradora-geral da Califórnia até patrocinar o Green New Deal [ambiciosa resolução proposta no Congresso para combater as mudanças climáticas] como senadora e dar o voto decisivo como vice-presidente para a Lei de Redução da Inflação de 2022, o maior investimento climático na história dos Estados Unidos”, escreveu Lisa Friedman, para o New York Times.
Ela já se destacava na defesa da justiça ambiental em 2005, quando, como procuradora-geral, criou uma nova divisão na promotoria em São Francisco de crimes ambientais. Na ocasião, ela defendeu que “crimes contra o ambiente são crimes contra as comunidades, contra pessoas que geralmente são pobres e privadas de direitos”.
No cargo, lembra reportagem da ABC News, ela investigou em 2016 a petroleira Exxon Mobil por enganar o público sobre os riscos do uso de combustíveis fósseis para as mudanças climáticas; processou a Plains All-American Pipeline por um derramamento de óleo na costa da Califórnia em 2015; e ainda assegurou um acordo para que a Volkswagen pagasse US$ 86 milhões ao Estado no caso em que a montadora mentiu sobre os dados das emissões dos veículos a diesel.
Como senadora e depois como vice-presidente, Harris defendeu a oferta de ônibus escolares elétricos, assegurando um recurso de US$ 5 bilhões para sua adoção. Ela defendeu o banimento do fracking em terras públicas e leis que requerem carros menos poluentes.
Harris chegou a se lançar como candidata à presidência na eleição passada, mas acabou abrindo mão em prol de Biden. Mas seu plano de governo tinha uma agenda climática bem mais ambiciosa. Ela apoiava um imposto sobre o carbono e propôs US$ 10 trilhões de dólares em gastos climáticos públicos e privados – pontos que acabaram rendendo ataques a Biden quando ela foi escolhida como sua vice. |